Escândalo sexual complica denúncia contra Arruda
Único governador a ser preso na história do País, José Roberto Arruda aguarda há mais de dois anos a apresentação de uma denúncia judicial; se for verdadeira a informação de que as fitas do caso foram contaminadas pela disputa política, ela terá que ser muito consistente para não vitimizá-lo.
Durante todo o fim
de semana, só se falou de um assunto nas rodas políticas de Brasília: a
reportagem de capa de Veja, que revela que a lobista Cristiana Araújo,
funcionária do policial convertido em chantagista Durval Barbosa, manteve
relações próximas e perigosas demais com dois figurões do PT: José Antônio Dias
Toffoli, ex-advogado-geral da União e ministro do Supremo Tribunal Federal, e
Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República. De acordo com
a reportagem, Cristina tinha um caso extraconjugal com Toffoli e levou a ele as
fitas gravadas por Durval Barbosa – entre elas, a cena em que Arruda aparece
recebendo R$ 50 mil. A partir desta e de outras fitas, a Polícia Federal montou
a Operação Caixa de Pandora, que fez com que Arruda passasse uma temporada na
Papuda, maior presídio do Distrito Federal, e ajudou a cunhar a expressão
“mensalão do DEM”. Arruda, que tinha aprovação próxima a 80%, perdeu o mandato
e seu vice, Paulo Octavio, também renunciou. Passados quase dois anos e meio, o
Ministério Público do Distrito Federal ainda não apresentou sequer uma denúncia
sobre o caso.
A dificuldade
reside no seguinte fato: a fita em que Arruda aparece recebendo R$ 50 mil é de
2006, anterior à sua posse como governador, que se deu em janeiro de 2007.
Durval exerceu o poder, de fato, nos dois governos de Joaquim Roriz, como
presidente da Codeplan, onde cuidava dos contratos de R$ 500 milhões/ano com as
empresas de informática. E os procuradores precisam sustentar a tese de que
Arruda e Durval comandavam, juntos, um mesmo esquema de corrupção, que desviava
recursos do Distrito Federal e alimentava o chamado mensalão do DEM – cujas
fitas, ao que tudo indica, também são anteriores à posse de Arruda. Para
colocar ainda mais lenha na fogueira, sabe-se agora que Cristiana Araújo pediu
a Gilberto Carvalho que indicasse como chefe do MP-DF uma pessoa de sua
confiança, o procurador Leonardo Bandarra.
Há meses,
aguarda-se, em Brasília, a publicação da denúncia do Ministério Público. Seu
eixo central será a descrição de um esquema criado no governo Roriz e mantido
por Arruda, que teria desviado cerca de R$ 700 milhões. Mas com a contaminação
política em torno do caso, que deixa explícito o envolvimento de um advogado
petista que se tornou advogado-geral da União e depois ministro do Supremo
Tribunal Federal, a denúncia terá que ser muito consistente para que Arruda não
comece a se sentir à vontade para posar de vítima de uma conspiração política.
Depois do furacão Cristiana, o MP-DF vive um dilema. Se apresentar uma denúncia
frágil, que não gere uma condenação, deixará no ar a suspeita de também ter
participado de uma trama. E com as revelações que surgem a cada semana, também
não pode adiar indefinidamente a conclusão do seu trabalho.
Fonte: http://brasil247.com/pt/247/poder/41725/Esc%C3%83%C2%A2ndalo-sexual-complica-den%C3%83%C2%BAncia-contra-Arruda.htm
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